09/03/2018 às 15h44min - Atualizada em 09/03/2018 às 15h44min

PF conclui em dossiê que filho de desembargadora é membro de quadrilha perigosa

'Participaria do 'resgate' de um criminoso em fuga do presídido de Três Lagoas'

- MS NOTÍCIAS
Foto: Reprodução/Web

O homem que aparece na imagem da câmara instalada na saída do Presídio de Segurança Média de Três Lagoas segurando um saco de roupas, atrás da desembargadora Tânia Garcia Freitas Borges, não é alguém que, circunstancialmente, se envolveu em um crime. Filho da desembargadora, ele é membro de uma quadrilha perigosa, segundo definição da Polícia Federal, que elaborou um dossiê sobre os bandidos dessa organização.

A ficha de Breno. Foto:Reprodução/Arquivo/PF 

O relatório define Breno Fernando Solon Borges como agente operacional da organização, responsável pelo transporte de armas e drogas da quadrilha, “além de participar da frustrada execução do primeiro plano de resgate e fuga de um detento de um presídio de Três Lagoas”.

Em operação de combate ao tráfico, denominada Cérberus, a Polícia Federal identificou 7 membros da quadrilha, que é ligada ao PCC, organização que controla o comércio de drogas em São Paulo e Mato Grosso do Sul, entre outros Estados.

O chefe é Tiago Vinícius Vieira, de 32 anos, que tem uma passagem na polícia por homicídio, duas por assalto e uma por uso de documento falso. No dossiê, a ficha de Breno vem em segundo lugar, com a informação de que ostentava uma vida de luxo, com veículos em nome de outras pessoas.

Ficha do chefe da quadrilha, Tiago. Foto: Reprodução/Investigações/PF

A quadrilha tem ainda três mulheres jovens. Uma delas, Mayara Alves de Souza, de 26 anos, é a mulher do chefe, outra, Isabela Lima Vilalva, de 19, é a namorada de Breno e uma terceira, Thaís Camila Gimenes da Costa, de 26 anos, aparece sem namorado, com uma função menor na organização: empresta o nome para transações bancárias.

Daria Aparecido Cunha de Almeida Júnior, de 23 anos, tem uma extensa ficha criminal, com registro desde a adolescência, com passagens por tráfico, lesão corporal e adulteração de sinal de identificação de carro. Outro membro da quadrilha é Deivi Maclin Rodrigues, 'o Fuzil', de 36 anos, com comércio em Ponta Porã, polo de tráfico no Continente.

A Polícia acredita que há outros operadores, ainda não identificados, mas este seria o núcleo da célula.

Não é possível saber quando Breno iniciou sua vida no crime. A luz vermelha acendeu no dia 24 de fevereiro deste ano, quando ele foi parado em uma blitz de Carnaval realizada pela Polícia Rodoviária Federal em uma estrada nos arredores de Campo Grande.

Breno estava acompanhado de algumas mulheres e a polícia suspeitou que, em razão do nervosismo dele, havia algo errado. Fez uma revista no carro e encontrou uma pistola automática 9 milímetros, de uso restrito. Breno assumiu a propriedade da arma e foi preso em flagrante. Pagou fiança de 4 salários mínimos e foi solto.

A mão dele e de uma mulher, com armas. Foto:Reprodução/investigação/PF 

Um dos policiais que realizaram a prisão conta que Breno não usou o nome da mãe para tentar evitar a prisão. “Se isso aconteceu depois, não sei. Mas, no momento, não falou nada”, disse o policial. Ele se surpreendeu quando soube que Breno foi solto em seguida, mediante o pagamento de fiança.

Fuga frustrada 

Um mês depois, no dia 27 de março, Breno foi flagrado num grampo policial. Ele conversou com Tiago, o líder da quadrilha, preso no Presídio de Segurança Média de Três Lagoas. A transcrição das conversas mostra o papel importante de Breno no plano de fuga.

Antes da 8 horas, Tiago conversa com Dario e diz: “Hoje é o dia” e orienta o interlocutor a esconder o carro no mato. Tiago pergunta se Dario já conversou com Breno, que responde que o filho da desembargadora estava no posto.

Às 11h42, Dario avisa ao chefe que ele e Breno estão a postos, no local combinado para o plano de resgate. Dario manifesta preocupação com as digitais que ficariam no carro, que, conforme o plano, apanharia Tiago na porta do presídio e seria abandonado no mato.

Tiago, o chefe, que responde a processo por homicídio, não está muito preocupado com isso. “É só uma fuga”, diz.

Mais tarde, voltam a se falar. “Estamos de frente para a BR”, avisa. Tiago fala sobre a esperança de que estariam juntos outra vez.  Só que há um problema: “Fuzil”, o apelido de outro preso que fugiria, não está sendo encontrado por Tiago.

Já são quase 4 horas da tarde, quando Tiago volta a falar com seu contato fora do presídio. Chove e o contato diz que está preocupado com “as ferramentas” que estão escondidas no mato. Suspeita-se que se referia às armas que seriam usadas na fuga.

Tiago também fala diretamente com Breno várias vezes ao longo do dia 27 de março. Em uma das conversas, por volta das 16 horas daquele dia, Tiago diz que seria melhor adiar a fuga, já que, para supresa dele, a segurança do presídio foi reforçada por causa da chegada de um preso transferido de uma penitenciária federal.

“Calçado, nóis tá”, responde Breno, frase que foi interpretada pelos policiais como se eles estivessem bem armados.

Breno participaria diretamente do plano de fuga, já que, em outra conversa com Tiago, ouve a orientação de que não deixasse de usar camisa de manga longa e boné, para não ser identificado pelas câmeras de segurança do presídio.

Arsenal de Breno em registro da rede social. Foto: Reprodução 

Mas Tiago mantém a decisão de adiar a fuga e libera Breno. Os dois se tratam como “irmão”, expressão pela qual se tratam membros do PCC. O filho da desembargadora responde que estaria à disposição do “irmão”quando ele precisasse.

Aproveita e pergunta se Tiago não estaria interessado em comprar uma Uzi (submetralhadora de procedência israelense, de uso exclusivo de policiais).

Tiago pergunta se Breno não poderia pernoitar em Três Lagoas, para a fuga no dia seguinte. Breno responde que a filha mais nova (5 anos, ele tem outras duas) está na casa dele e, por isso, tem que voltar.

Além disso, segundo Breno, se dormisse fora, a mãe desconfiaria de algo e poderia criar algum embaraço. Breno diz que poderia voltar no dia que ele quisesse. Ao chegar a Campo Grande, quase 350 quilômetros distante de Três Lagoas, Breno avisa ao chefe que já estava em casa.

“Não restam dúvidas de que Tiago estava orquestrando uma fuga cinematográfica, usando de violência, com apoio de Dario e Breno”, informa o relatório policial sobre o caso.

No dia seguinte, com base no monitoramento telefônico, a Policia transferiu Tiago para um presídio de segurança máxima em Campo Grande.

Breno acabaria preso mais tarde. A policia já poderia tê-lo encarcerado, mas, pelo jeito, deu corda para saber até onde ia. 

'Dança da vitória'

Foto do vídeo; Dança da vitória. Foto: Reprodução/Arquivo/PF

No dia 5 de abril, dois dias antes de sair de Campo Grande com os quase 130 quilos de maconha e muita munição de arma pesada, inclusive de uso restrito, Breno foi até a serralheiro onde seu funcionário, Cleiton Jean Sanches Chaves, adaptava a carroceria da camionete e o fundo de uma carreta para esconder os pacotes de maconha.

Na perícia realizada no celular de Isabela Lima Vilalva, foi encontrado um vídeo que mostra Breno dançando. O policial diz que é “a dança da vitória”.

“Possivelmente Isabela está filmando Breno dançando, e ao fundo um indivíduo parecido com Cleiton Jean Saches Chaves trabalha em cima da camionete F250 placa NRL 1413, aparentemente montando algo na carroceria do automóvel. Vale lembrar que a referida camionete foi apreendida no dia 08/04/2017 (de madrugada) com droga dentro de um compartimento oculto na carroceria, conforme fotos”, escreveu o agente da Polícia Federal Guilherme Costa Ferreira ao delegado da Polícia Federal Alan Wagner Nascimento Givigi, em relatório confidencial.

O relatório e o vídeo com a dança da vitória foi encaminhado ao juiz Idail De Toni Filho, de Água Clara, responsável pela prisão de Breno. Na perícia realizada nos aparelhos de celular de Breno e da namorada, também foram encontradas fotos de carros e de muitas armas, uma evidência de que Breno é um bandido perigoso. Mais perigoso ainda porque tem costas quentes, protegidas pela mãe desembargadora.


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