15/07/2015 às 14h39min - Atualizada em 15/07/2015 às 14h39min

Polícia mapeia rota do tráfico e receptação de veículos roubados, nas aldeias de Dourados

Policiais do Serviço de Investigações Gerais (Sig) da Polícia Civil deflagraram ontem operação nas aldeias indígenas de Dourados com foco no crime de receptação de veículos e tráfico de drogas. Com o apoio da Polícia Militar e da Guarda Municipal de Dourados, os policiais fizeram abordagens, orientações à comunidade e coletaram informações das lideranças locais que servirão para mapear a rota do crime naquela região.

De acordo com o delegado Mateus Zampiere, titular do SIG, a ação visa coibir roubos e receptação nas reservas. Ele diz que a medida está sendo tomada a pedido e com o apoio da comunidade. “Muita gente na reserva não compactua com a criminalidade e por isto vem pedindo o auxílio das forças policiais para combater os ilícitos. Nós retomamos este trabalho de fiscalização mais intensa na reserva depois de vencidas algumas resistências sobre a competência da Polícia Civil atuar ou não nas aldeias e vamos realizar diversas operações a partir de agora, visando diminuir os índices de criminalidade em toda a cidade”, destaca.

Na manhã de ontem, conforme noticiou o jornal Douradosagora, o Sig passou por várias oficinas mecânicas, orientando sobre o crime de receptação de veículos e deixando os contatos do Serviço para denúncias. Também atuará com o fator surpresa em dias e horários alternados. “A proposta é que a população indígena também sinta a presença da polícia na reserva, que é um dos principais motivos de queixas daquela comunidade”, explica.

QUADRILHAS

Membros do Observatório dos Direitos Indígenas de Dourados viram com bons olhos a iniciativa da Polícia Civil de Dourados, já que haviam feito vários pedidos ao Ministério Público Federal sugerindo estas intervenções policiais.

No entanto, acredita que a Polícia deva dar uma atenção especializada as organizações criminosas que atuam fora da aldeia e que levam produtos roubados para lá. Há denúncias inclusive da participação de policiais nestas organizações, fator que a Polícia deverá checar. “Não há índices de roubos de veículos praticados por indígenas em Dourados. As quadrilhas se articulam, roubam e trazem estes veículos para a Reserva. Em muitos casos os indígenas são enganados pelos criminosos que afirmam estar tudo certo com o veículo. O índio acredita muito na palavra das pessoas. Por isto é louvável a atitude da Polícia em orientar a população.

PONTOS DE DROGA

De acordo com membros do Observatório de Direitos Indígenas e do Conselho Indígena, após as 18h existe uma forte movimentação de veículos que chegam para entregar drogas e fomentar o tráfico no interior da Reserva. Segundo eles, hoje são mais de 40 pontos de comercialização de entorpecentes aproximadamente no local. “A maioria são jovens que fazem o famoso ‘tráfico formiguinha’, recebendo e entregando as substâncias”, destaca uma liderança, que pediu para não ter o nome revelado.

INDÍGENAS PRESOS

Segundo o Observatório, hoje são 73 índios presos em Dourados, sendo a maioria deles, cerca de 40, por envolvimento no tráfico de drogas. “O índio não planta e nem produz entorpecente, então, ao invés de pegarem os peixes pequenos, porque não se chega aos traficantes principais que invadem as aldeias?”, questiona.

CONSEQUÊNCIAS

O dinheiro fácil, com venda rentável e sem fiscalização, virou uma forma de “fazer a vida” na aldeia. Segundo lideranças, até mesmo as crianças são usadas pelos traficantes. “Elas pegam a droga em pontos escondidos na reserva e já sabem para quem entregar”, comentou uma liderança, observando que alguns dos traficantes nem índios seriam e, sim, refugiados do Paraguai. Outros abastecem a reserva com carros adulterados e com placas frias; veículos que são objeto do crime, vendidos com a finalidade de facilitar o transporte do tráfico na reserva. Os traficantes instalados na reserva tomam tudo o que os viciados têm. “Famílias inteiras tiveram que deixar as casas onde moravam para pagar a conta do tráfico. Eles vão deixando você comprar para depois, quando sua dívida estiver alta, eles se apropriarem dos bens do devedor”, explica outro líder.


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