Policiais do Serviço de Investigações Gerais (Sig) da Polícia Civil deflagraram ontem operação nas aldeias indígenas de Dourados com foco no crime de receptação de veículos e tráfico de drogas. Com o apoio da Polícia Militar e da Guarda Municipal de Dourados, os policiais fizeram abordagens, orientações à comunidade e coletaram informações das lideranças locais que servirão para mapear a rota do crime naquela região.
De acordo com o delegado Mateus Zampiere, titular do SIG, a ação visa coibir roubos e receptação nas reservas. Ele diz que a medida está sendo tomada a pedido e com o apoio da comunidade. “Muita gente na reserva não compactua com a criminalidade e por isto vem pedindo o auxílio das forças policiais para combater os ilícitos. Nós retomamos este trabalho de fiscalização mais intensa na reserva depois de vencidas algumas resistências sobre a competência da Polícia Civil atuar ou não nas aldeias e vamos realizar diversas operações a partir de agora, visando diminuir os índices de criminalidade em toda a cidade”, destaca.
Na manhã de ontem, conforme noticiou o jornal Douradosagora, o Sig passou por várias oficinas mecânicas, orientando sobre o crime de receptação de veículos e deixando os contatos do Serviço para denúncias. Também atuará com o fator surpresa em dias e horários alternados. “A proposta é que a população indígena também sinta a presença da polícia na reserva, que é um dos principais motivos de queixas daquela comunidade”, explica.
Membros do Observatório dos Direitos Indígenas de Dourados viram com bons olhos a iniciativa da Polícia Civil de Dourados, já que haviam feito vários pedidos ao Ministério Público Federal sugerindo estas intervenções policiais.
No entanto, acredita que a Polícia deva dar uma atenção especializada as organizações criminosas que atuam fora da aldeia e que levam produtos roubados para lá. Há denúncias inclusive da participação de policiais nestas organizações, fator que a Polícia deverá checar. “Não há índices de roubos de veículos praticados por indígenas em Dourados. As quadrilhas se articulam, roubam e trazem estes veículos para a Reserva. Em muitos casos os indígenas são enganados pelos criminosos que afirmam estar tudo certo com o veículo. O índio acredita muito na palavra das pessoas. Por isto é louvável a atitude da Polícia em orientar a população.
De acordo com membros do Observatório de Direitos Indígenas e do Conselho Indígena, após as 18h existe uma forte movimentação de veículos que chegam para entregar drogas e fomentar o tráfico no interior da Reserva. Segundo eles, hoje são mais de 40 pontos de comercialização de entorpecentes aproximadamente no local. “A maioria são jovens que fazem o famoso ‘tráfico formiguinha’, recebendo e entregando as substâncias”, destaca uma liderança, que pediu para não ter o nome revelado.
Segundo o Observatório, hoje são 73 índios presos em Dourados, sendo a maioria deles, cerca de 40, por envolvimento no tráfico de drogas. “O índio não planta e nem produz entorpecente, então, ao invés de pegarem os peixes pequenos, porque não se chega aos traficantes principais que invadem as aldeias?”, questiona.
O dinheiro fácil, com venda rentável e sem fiscalização, virou uma forma de “fazer a vida” na aldeia. Segundo lideranças, até mesmo as crianças são usadas pelos traficantes. “Elas pegam a droga em pontos escondidos na reserva e já sabem para quem entregar”, comentou uma liderança, observando que alguns dos traficantes nem índios seriam e, sim, refugiados do Paraguai. Outros abastecem a reserva com carros adulterados e com placas frias; veículos que são objeto do crime, vendidos com a finalidade de facilitar o transporte do tráfico na reserva. Os traficantes instalados na reserva tomam tudo o que os viciados têm. “Famílias inteiras tiveram que deixar as casas onde moravam para pagar a conta do tráfico. Eles vão deixando você comprar para depois, quando sua dívida estiver alta, eles se apropriarem dos bens do devedor”, explica outro líder.