22/07/2015 às 13h27min - Atualizada em 22/07/2015 às 13h27min

Menor espancado em cela após estupro coletivo escreveu à mãe antes de morrer

Gleison Vieira da Silva, 17 anos, espancado até a morte dentro do Centro Educacional Masculino (CEM), escreveu uma carta para sua mãe dois dias antes de morrer. No texto, o filho pede à mãe que ela o perdoe pelo que ele fez, agradece seu amor, diz que não vai esquecê-la e encerra dizendo para ela ficar com Deus. 

O adolescente inicia a carta dizendo que sente muita falta de Elizabeth Vieira, em seguida  pede perdão, mas não chega a mencionar o crime. Gleison Vieira e mais três adolescentes foram condenados pelo estupro coletivo que aconteceu em Castelo do Piauí, em maio deste ano.

O texto da carta contém erros de português e os trechos transcritos na reportagem foram corrigidos para facilitar a leitura.

"Mãe eu sinto muito a sua falta, eu quero que você me perdoe pelo que fiz. Eu sei que Deus me perdoou, agora eu quero seu perdão. Desculpa mãe eu não ter sido um filho que você sempre quis, mas eu quero que você saiba que você nunca vai sair da minha mente e do meu coração"

Elizabeth Vieira recebeu a carta durante uma visita que fez ao filho quando ele ainda estava no Centro de Internação Provisória (CEIP), antes da transferência para o CEM.. Segundo a mãe do rapaz, dois dias após receber a carta, o filho foi espancado e faleceu dentro do alojamento.

Em outro momento da carta, o adolescente pede para que a mãe não o esqueça e se desculpa por não ter recompensado o ela fez por ele.

"Mãe eu peço que você lembre que teu filho te ama muito. Eu sei que nunca recompensei o que você fez por mim e que continua fazendo. Obrigada por ter sido uma mãe tão boa. Eu agradeço a Deus por você comigo, eu nunca vou esquecer de você e nem da minha vovó e nem do meu padrasto".

O rapaz se despede pedindo para a mãe para ficar com Deus e no envelope chega a pedir que ela guarde o bilhete durante os três anos em que cumpriria a medida socioeducativa.

Gleison da Silva se despede da mãe e diz pra ela ficar com Deus (Foto: Ronaldo Mota)

Gleison da Silva se despede da mãe e diz pra ela ficar com Deus (Foto: Ronaldo Mota)


Gleison da Silva se despede da mãe e diz pra ela ficar com Deus (Foto: Ronaldo Mota)

Investigação
Um inquérito policial foi aberto para investigar a morte de Gleison da Silva. A titular da delegacia do Menor Infrator, Thaís Paz, já ouviu o depoimento dos adolescentes suspeitos de assassinar o jovem dentro do alojamento do Centro Educacional Masculino.

Conforme a delegada, os menores assumiram a autoria do crime e relataram que mataram o rapaz porque ele teria revelado à polícia o nome dos suspeitos de participar do estupro coletivo.

Além dos suspeitos, a delegada também ouviu três adolescentes que teriam presenciado o espancamento, mas com medo de represálias, os garotos não revelaram o que viram na noite do crime.

Após a morte de Gleison, os outros três menores culpados pelo estupro coletivo foram retirados do CEM e agora permanecem no Centro de Internação Provisória (Ceip).

Superlotação
Após determinar a transferência dos três adolescentes acusados de estupro para o Centro de Internação Provisória (Ceip), o juiz Antônio Lopes, da 2ª Vara da Infância e Juventude da capital, falou sobre a dificuldade de encontrar vagas nas unidades socioeducativas no Piauí.

"Não vou deixar de sentenciar nenhum adolescente por falta de vaga do estado. O judiciário julga e quem deve manter estes menores é o executivo. Se o estado é inoperante, o problema não é meu", frisou.

De acordo com ele, os menores ficarão em celas separadas no Centro até que o estado providencie um local definitivo.

Afastamento de diretoria
A direção do Centro Educacional Masculino em Teresina (CEM) foi afastada na segunda-feira (20). A saída dos gestores acontece três dias após a morte do adolescente Gleison Vieira da Silva. 

Foram afastados o coordenador do CEM, Marivaldo Viana, o gerente de Internação da secretaria, Francisco Herbert da Cruz, e o diretor da Unidade Socioeducativa da pasta, Anderlly Lopes. O atual coordenador do Centro Educacional de Internação Provisória (CEIP), Emerson de Oliveira, deixará a pasta para assumir a coordenação do CEM, de forma interina. Já a direção da Unidade Socioeducativa da Sasc será de responsabilidade do capitão Anselmo Portela.

Presidente da OAB-PI negou intervenção do Centro Educacional Masculino (Foto: Catarina Costa/G1)

Presidente da OAB-PI negou intervenção do Centro Educacional Masculino (Foto: Catarina Costa/G1)

Presidente da OAB-PI negou intervenção do Centro
Educacional Masculino (Foto: Catarina Costa/G1)

Vistória da OAB
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), seccional Piauí, realizou uma vistoria nesta segunda-feira no CEM. Segundo William Guimarães, presidente da OAB-PI, atualmente o Centro abriga 83 internos, 20 a mais do que sua capacidade. Foram encontrados problemas como falta de colchões em todos os alojamentos, insuficiência de educadores e estrutura precária, com uma fossa estourada numa das celas.

Do resultado da vistoria, o presidente da OAB-PI pretende elaborar um relatório, que será entregue ao governo do estado e a direção do CEM. "Vamos solicitar uma audiência com o governador e cobrar dele o investimento para a reforma deste centro como a construção de um novo. Soubemos que a União disponibilizou R$ 5,5 milhões para a nova unidade, mas que há risco de devolução do valor porque o estado não tem tido eficiência da aplicação desses valores. Não podemos aceitar este retorno", completou.

Jovens confessam homicídio
Os três adolescentes que dividiam o alojamento com Gleison Vieira da Silva, 17 anos, assumiram a autoria do ato infracional de matar o jovem, pois a vítima entregou para a polícia os nomes dos envolvidos no estupro coletivo em maio deste ano.

 

“Um dos adolescentes disse que foi apenas uma discussão que terminou na morte do Gleison, já os outros dois narram que a intenção era realmente matar o delator. Os adolescentes afirmam que assassinaram Gleison porque ele teria dito para a polícia que eles participaram do estupro coletivo sem terem envolvimento com o caso”, afirmou a titular da Delegacia do Menor Infrator em Teresina, Thais Paz, que informou abrir um novo inquérito e ouvir novas testemunhas.

Adolescente espancado até a  morte foi enterrado em  Teresina (Foto: Ellyo Teixieira/ G1)

Adolescente espancado até a morte foi enterrado em Teresina (Foto: Ellyo Teixieira/ G1)

Adolescente espancado até a morte foi enterrado
em Teresina (Foto: Ellyo Teixieira/ G1)

Vazam fotos
O gerente de internação do Centro Educacional Masculino (CEM), Herberth Neves, declarou que vai abrir uma sindicância para identificar os responsáveis pelo vazamento das imagens do adolescente Gleison Vieira da Silva, 17 anos, por companheiros de cela.

 

 As imagens, que mostram o corpo ferido e o rosto de Gleison Vieira desfigurado, foram compartilhadas nas redes sociais. Herberth Neves quer saber se houve negligência por parte dos policiais ou educadores de plantão com relação a divulgação das fotos do garoto.

Ainda de acordo com o gerente de internação, os suspeitos de assassinar o adolescente admitiram o homicídio e não demonstraram remorso ou arrependimento ao relatar o ato criminoso.

"Os acusados não falaram a motivação do crime, mas acredito que houve uma discussão entre eles e o Gleison, porque ele foi o delator do estupro. Os três confessaram ter matado o companheiro e explicaram como fizeram isso. Percebi a frieza deles em comentar o ato, como se fosse algo banal. Não demonstraram nenhum remorso ou arrependimento o que mostra o grau de periculosidade destes menores", declarou.

Detalhes do crime
Segundo Herberth Neves, os adolescentes não utilizaram nenhum objeto para matar Gleison Vieira e que o crime aconteceu durante o banho."Um dos menores relatou que deu uma ‘gravata’ na vítima, para imobilizar e impedir que ela gritasse. Depois os três menores iniciaram uma sessão de espancamento, atingindo principalmente a cabeça de Gleison", falou.

Já o juiz Antônio Lopes, da 2ª Vara da Infância e Juventude em Teresina, afirmou que a agressão que culminou com a morte de Gleison deve ter sido iniciada enquanto a vítima dormia. Cada um eum alojamento diferente.

CEM conta atualmente com 82 internos cumprindo medidas socioeducativas (Foto: Pedro Santiago/G1)

CEM conta atualmente com 82 internos cumprindo medidas socioeducativas (Foto: Pedro Santiago/G1)

Centro Educacional Masculino em Teresina (Foto:
Pedro Santiago/G1)

Chacina no CEM
O juiz Antonio Lopes da 2ª Vara da Infância e Juventude em Teresina comentou que o ocorido e disse que o Centro Educacional Masculino (CEM) poderia ter sido palco de uma chacina, já que os adolescentes vinham sendo ameaçados de morte pelos demais jovens da unidade.

“Eles (os internos) disseram que os agressores tiveram foi sorte, porque iriam matar os quatro. Poderia ter sido uma chacina. Há 14 anos vejo que o estado não tem cumprido o que estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente, que é manter separados menores com alto grau de agressividade, a exemplo de estupradores, e quando há riscos para a integridade física deles”, disse o juiz.

 

Mãe grava vídeo
Elizabeth Vieira gravou um vídeo depois que soube do assassinato do filho. "Foi um choque muito grande porque eu não estava esperando. Recebi a notícia, é uma dor muito grande", disse.

A mãe da vítima disse ainda que acredita que a briga entre os jovens tenha sido motivada por causa dela. No vídeo, ela diz que ele a defendia muito. "Ele tinha que pagar pelo crime que cometeu, mas não desta forma", disse.


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