10/09/2015 às 00h00min - Atualizada em 10/09/2015 às 00h00min

Três Lagoas é destaque nacional com investimento de R$ 15,7 bi em celulose

- Conjuntura

A indústria de extração da celulose de fibra curta, a que é utilizada para a produção de papel para a impressão, para escrita e com fins sanitários (higiênico, toalhas de papel e guardanapos), que tem mudado a história de Três Lagoas, foi destaque em matéria do G1 MS no final de agosto.

 

A matéria aponta que o setor de celulose tem papel fundamental na economia local desde a instalação de duas plantas, a VCP, atual Fibria, em 2009 e a Eldorado em 2013, que geraram emprego, renda e desenvolvimento, transformando a vida de milhares de pessoas no município e no seu entorno. E agora, em 2015, com o anúncio, na contramão da grave crise econômica que o país atravessa, de um investimento de R$ 15,7 bilhões, para a implantação de novas linhas de produção pelas duas empresas.

 

Atualmente, o segmento tem uma significativa importância para Três Lagoas, se destacando na geração de empregos diretos e indiretos, na arrecadação de impostos e no fomento a toda a cadeia econômica do município e até mesmo do Estado.

 

Uma série de dados da Prefeitura, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e da Semade (Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico) atesta essa relevância.

Dados do Cadastro Geral de Empresas do IBGE, por exemplo, apontam que entre 2009 e 2013 o número de trabalhadores assalariados em Três Lagoas aumentou 87,6%, passando de 22,1 mil para 41,6 mil; que o salário médio mensal na mesma comparação teve um incremento de 14,8%, subindo de 2,7 salários mínimos para 3,1 salários mínimos e que o número de empresas atuantes no município cresceu 27,9%, avançando de 2.597 empreendimentos para 3.322.

 

De acordo Secretaria de Finanças e Controle, por meio do Departamento de Administração Tributária, entre 2009 e 2014, o aumento na quantidade de empresas instaladas e de pessoas ocupadas refletiu diretamente na arrecadação de impostos pelo Município.

 

A receita com o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) teve elevação de 146,9% (de R$ 6,5 milhões para R$ 16 milhões por ano), a do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (Issqn), registrou alta de 127,1% (de R$ 21,8 milhões anuais para R$ 49,5 milhões) enquanto que a arrecadação total de tributos cresceu 107,5% (de R$ 163,9 milhões para R$ 340,2 milhões).

 

Esse aumento da movimentação de recursos no Município impactou também no PIB (Produto Interno Bruto), medido pela Semade, que de 2009 a 2012, teve incremento de 68%, passando de R$ 2,013 bilhões para R$ 3,285 bilhões, e no PIB per capta, que passou, neste mesmo intervalo de tempo de R$ 22,5 mil para R$ 32,1 mil, o que representou uma elevação de 42,9%.

 

IMPORTÂNCIA NA ECONOMIA

 

A indústria da celulose não impactou positivamente somente Três Lagoas e região, o setor também trouxe benefícios para a economia de Mato Grosso do Sul e do Brasil.

 

Em 2009, quando entrou em operação a primeira planta local, o produto foi o terceiro principal item exportado pelo estado, com um volume de 590,966 mil toneladas, o que gerou uma receita de US$ 227,177 milhões. Já no primeiro semestre de 2015, a quantidade embarcada para o mercado internacional foi 89,77% maior, 1,121 milhão de toneladas e a receita atingiu os US$ 484,607 milhões.

 

O produto chegou a liderar o ranking de exportações sul-mato-grossenses neste ano e fechou os primeiros seis meses na segunda posição da listagem.

 

Neste semestre a celulose “Made in MS” foi vendida para 43 países, sendo os principais compradores a China, com 404,398 mil toneladas (36,05% do total), a Itália com 263,600 mil toneladas (23,50%), a Holanda, com 143,990 mil toneladas (12,83%) e os Estados Unidos, com 79,328 mil toneladas (7,07%).

Em âmbito nacional, Mato Grosso do Sul que era o quinto maior exportador do país em 2009, saltou para a segunda posição em 2014, com 2,292 milhões de toneladas, o que representou 21,60% das 10,613 milhões de toneladas do produto vendidas pelo Brasil a outros países no ano.

 

A importância do setor para o Estado também pode ser mensurada pelo crescimento de sua participação no PIB industrial e do estado. De acordo com dados da Semade e da Fiems, em 2012, último ano em que os dados oficiais foram divulgados e quando apenas uma planta ainda estava em operação em Três Lagoas, o PIB do setor foi R$ 1,15 bilhão, o que representou 11,3% do PIB industrial do Estado no ano que foi de R$ 10,2 bilhões e 2,44% do PIB sul-mato-grossense, que chegou aos R$ 47,1 bilhões.

 

Já em 2014, quando as duas plantas estavam em plena atividade, conforme as estimativas dos técnicos do governo do Estado e da entidade, a projeção é de que o PIB do setor tenha atingido R$ 1,9 bilhão e que sua participação no PIB da indústria, que teria chegado aos R$ 14,2 bilhões, tenha aumentando para 13,3%. Já frente ao PIB estadual, que teria atingido no ano os R$ 69 bilhões, a estimativa é que sua representatividade tenha atingido os 2,75%.

 

Impulsionado pelo setor, o Estado possui, segundo a Reflore-MS (Associação dos Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas), atualmente cerca de 850 mil hectares cultivados com eucalipto, que é a principal matéria-prima do setor.

 

Dessa área, a terceira maior do país dedicada ao cultivo dessa espécie florestal, e que representa mais de um bilhão de árvores, cerca de 425 mil hectares são voltados para atender as indústrias de celulose seja por meio de cultivos próprios, áreas arrendadas ou de terceiros.

 

Com a estimativa da geração de um emprego (direto ou indireto) em toda a cadeia produtiva a cada dez hectares plantados, a Reflore-MS projeta que a atividade gere aproximadamente 85 mil empregos no estado.

 

POLO DE PESQUISA DO SETOR

 

Além de polo de produção de celulose e de capacitação de mão de obra, a região de Três Lagoas também deve se tornar uma referência no país e até em âmbito mundial em pesquisas no setor, graças a implantação também pelo Senai de um centro de pesquisa aplicada para melhorar os processos industriais.

 

A concentração desses três elos da cadeia em uma mesma região fez com que o secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável chegasse a compará-la com o Vale do Silício, na Califórnia, nos Estados Unidos, onde estão concentradas algumas das principais empresas de produção e desenvolvimento de tecnologia do mundo.

 

 O Instituto Senai de Inovação em Biomassa está sendo construído com um investimento de R$ 34,8 milhões e deve entrar em operação no primeiro semestre de 2016. O portfólio de serviços da unidade inclui: soluções sustentáveis para processos produtivos, transporte e tratamento de novas matérias-primas, desenvolvimento de processos inovadores de conversão de biomassa e resíduos e desenvolvimento de novos produtos e aplicações industriais com biomassa.

 

As pesquisas serão desenvolvidas em parceria com as empresas do segmento, e todo o know how de implantação da unidade vem do Instituto Fraunhofer, de Frankfurt, na Alemanha.

 

DEMANDA IMPULSIONA CRESCIMENTO

 

O crescimento da demanda mundial por celulose é de aproximadamente 1,5 milhão de toneladas a cada 15 meses. Esse mercado crescente e a vocação natural do Estado para o setor ajudaram a impulsionar o investimento de R$ 15,7 bilhões que a Fibria e a Eldorado farão na construção de novas linhas de produção.

 

No caso da Fibria, a planta atual que tem capacidade instalada para produzir 1,7 milhão de toneladas por ano deve atingir 3 milhões de toneladas ano, com a nova linha.

 

A empresa já tem 225 mil hectares cultivados com eucalipto no estado e um excedente de 107 mil hectares plantados ou sob contratos de plantio para atender a demanda de 174 mil hectares da nova linha que deve entrar em operação em 2018.

 

O investimento previsto no projeto será de 7,7 milhões. Somente a obra vai gerar 40 mil empregos diretos e indiretos e quando a nova linha entrar em operação vai abrir 3 mil novos postos de trabalho, ampliando para 6 mil o número de colaboradores da empresa no Estado. Cerca de 60 fornecedores locais atuarão no projeto e está prevista a arrecadação de R$ 450 milhões em impostos durante a obra.

 

Além de gerar e consumir a própria energia, com a nova linha, a Fibria passará a ter um excedente de 160 MW/h, que serão disponibilizados no sistema nacional para a comercialização.

 

Já no caso da Eldorado, o investimento previsto na nova linha será de R$ 8 bilhões. A capacidade instalada de 1,7 milhão de toneladas deve passar para 4 milhões de toneladas de celulose ano e o maciço florestal para atendê-la deve ser ampliado dos atuais 200 mil hectares para 350 mil hectares. Somente para a obra deverão ser contratados 20 mil trabalhadores, e o quadro de colaboradores da empresa, atualmente em 4,5 mil deve subir para aproximadamente 5 mil.

 

O empreendimento também será autossuficiente em energia e terá um excedente na cogeração de 170 MW/h, que será vendida para o sistema elétrico nacional e que é suficiente para alimentar, conforme a empresa, uma cidade de mais de 630 mil habitantes por um ano.

 

Os investimentos da Fibria e Eldorado na ampliação das atividades em Três Lagoas equivalem a 106% do PIB Industrial de Mato Grosso do Sul atual ou 21% do PIB do Estado total, estimados para 2015.

 

Quando entrarem em operação, o VTI (Valor de Transformação Industrial) das duas novas unidades, que é uma proxy para contribuição direta ao PIB, deverá ser de aproximadamente R$ 3 bilhões. Já em relação ao PIB Industrial estimado para 2018 (R$ 18,7 bilhões), o incremento proporcionado pelas novas linhas das duas plantas deverá ser próximo de 16%, enquanto que o impacto sobre o PIB do segmento de celulose e papel, também estimado para 2018 (R$ 4,9 bilhões) deverá ser de 61%.


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