14/09/2015 às 16h20min - Atualizada em 14/09/2015 às 16h20min

Edílson depõe na sede da PF em Goiás sobre fraude em loterias

Escutas mostram que ele tinha ligação com chefe da quadrilha, diz MPF

- G1

O ex-jogador da seleção brasileira Edílson da Silva Ferreira, conhecido como Edílson Capetinha, depõe na tarde desta segunda-feira (14), na sede da Polícia Federal, em Goiânia. 

Ele é suspeito de envolvimento em fraudes no pagamento de prêmios de loterias da CEF (Caixa Econômica Federal).

Conforme a assessoria de imprensa da PF, Edílson chegou às 14h10 à sede do órgão, no Setor Bela Vista, em Goiânia, acompanhado de dois advogados e um assessor. Ele está sendo ouvido pelo delegado Ricardo Mendes de Mesquita e Duarte.

A assessoria da PF informou ao G1 que foi cumprido um mandado de busca e apreensão contra o ex-jogador, na Bahia. Mesmo assim, o próprio Edílson se dispôs a prestar esclarecimentos na sede da Polícia Federal em Goiás, estado que comanda a investigação.

A imprensa não foi autorizada a acompanhar o depoimento.

Advogado de Edílson, Thiago Phileto informou ao G1 nesta tarde que o ex-jogador desembarcou em Goiânia no início da manhã desta segunda-feira para prestar depoimento. Ele adiantou que seu cliente iria negar em depoimento qualquer ligação com as fraudes.

"Eu vou levá-lo amanhã ou quarta-feira na PF de Salvador para ser interrogado. Vamos levar extrato de movimentação financeira e outros documentos pra provar que ele não tem nada a ver com isso", afirmou o defensor.

Escutas telefônicas

De acordo com o MPF-GO (Ministério Público Federal em Goiás), Edílson tinha um “relacionamento próximo” com um dos chefes da quadrilha investigada na Operação Desventura. Ele foi flagrado em escutas telefônicas conversando com integrantes do grupo.

"As conversas mostram que ele tinha um relacionamento próximo com um dos líderes, inclusive, de negócios. Mas a função do ex-jogador era apenas a de usar da fama e as grandes movimentações financeiras que fazia para aliciar gerentes do banco para as fraudes. Por isso, consideramos que ele atuava no escalão inferior da organização”, afirmou ao G1 o procurador Hélio Telho.

Segundo ele, o ex-jogador foi flagrado em escutas, autorizadas pela Justiça Federal, no início deste ano. “Nessas conversas ele recebe instruções de como deveria proceder para aliciar os gerentes”.

O MPF chegou a pedir a prisão do ex-jogador, mas a Justiça Federal negou. “Ainda não tive acesso ao teor do documento para saber o motivo da negativa. 

Mas foram realizadas buscas na casa de Edílson e ele deverá ser ouvido para prestar esclarecimentos. Se os elementos comprovarem a participação dele nas fraudes, ele poderá responder por organização criminosa e estelionato”, destacou o procurador.

Na última sexta-feira (12), o advogado Thiago Phileto disse que a polícia pode, de fato, ter encontrado nas escutas telefônicas algum contato do ex-jogador com um dos presos na operação, de prenome Eduardo. 

"Ligação telefônica pode ter. [Eduardo] procurou por ele [Edílson] propondo assessoria jurídica e de imagem. É um caça-artistas", disse Phileto, ao destacar que o contato foi profissional e não relacionado às fraudes denunciadas.

Operação Desventura

O ex-jogador está entre os investigados pela Polícia Federal na Operação Desventura, deflagrada na última sexta-feira (11). Agentes da PF estiveram na residência do ex-jogador para cumprir mandado de busca e apreensão e apreenderam discos rígidos e computadores. Ele negou qualquer envolvimento.

No total, foram expedidos 54 mandados judiciais contra o grupo em Goiás, na Bahia, São Paulo, Sergipe, Paraná e no Distrito Federal. Segundo assessoria de imprensa da PF, até o início da tarde desta segunda-feira (14), destes, 13 eram para prisões preventivas e temporárias, sendo os seis em Goiás. 

No total, 10 pessoas já foram detidas, incluindo as três no estado. Já das do total de 22 mandados de conduções coercitivas, 19 foram cumpridos. Os 19 de busca e apreensão foram todos realizados.

Segundo a corporação, a investigação, iniciada em outubro do ano passado, apontou que o esquema criminoso contava com a ajuda de correntistas da Caixa Econômica Federal, que eram escolhidos pela quadrilha por movimentar grandes volumes financeiros e que também seriam os responsáveis por recrutar gerentes do banco para a fraude.

Ainda segundo a PF, quando os criminosos estavam de posse de informações privilegiadas, entravam em contato com os gerentes para que eles viabilizassem o recebimento do prêmio por meio de suas senhas, validando, de forma irregular, os bilhetes falsos.

"A fraude não está no sorteio, ela está na validação fraudulenta dos bilhetes. Qualquer bilhete premiado tem o prazo de 90 dias para ser retirado. O sistema da Caixa emite um alerta quando faltam oito dias para prescrever esse bilhete. Com base nessas informações privilegiadas, servidores da Caixa repassavam quais seriam esses bilhetes para membros da quadrilha", explicou a delegada Marcela Rodrigues de Siqueira.

Em nota, a Caixa Econômica Federal informou que “já vem colaborando com as investigações da Operação Desventura” e que “manterá cooperação integral com as investigações em curso”. 

A instituição destacou, ainda, que “está tomando todas as providências de abertura de processos disciplinares, apuração de responsabilidades e afastamentos, nos casos de envolvimento de empregados do banco”.

Financiamentos

Segundo a delegada, o grupo também alterava o sistema do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) de vários estado e conseguia retirar financiamentos ainda não quitados do registro de veículos.

“De posse de informações sigilosas, eles obtinham senhas de gerentes específicos, entravam em um sistema que migra para o do Detran e, com isso, conseguiam tirar gravames de veículos de diversas instituições financeiras”, explicou.

Além disso, a delegada explicou que a quadrilha usava cartões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social) e do ConstruCard, que é o financimento da Caixa para a compra de materiais de construção, para cometer o crime.

“A fraude não é estrutural, ela é na comprovação da obtenção do dinheiro nos estabelecimentos. Eles [quadrilha] entravam em contato com os comerciantes e empresários para passar esses cartões e simular compras inexistentes”, relatou.

Em nota enviada ao G1, na última sexta-feira, a assessoria de imprensa do BNDES informou que está buscando mais informações sobre a investigação em curso para avaliar que medida deverá adotar em relação ao caso.


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