Proprietários da fazenda Buriti, no município de Sidrolândia, Ricardo e Jucimara Bacha comprovaram, por meio de vídeos e documentos, a presença do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) em invasões na região. Os dois foram ouvidos esta tarde (20) pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga se o órgão é culpado por incitar e financiar invasões de propriedades particulares em Mato Grosso do Sul.
O vídeo exibido durante a sessão mostra imagens de um fotógrafo e do coordenador regional do Cimi em Mato Grosso do Sul, Flávio Vicente Machado, durante invasão da fazenda Buriti, em 2003. Em outro vídeo, gravado em 2012, Flávio admite que o papel principal do órgão é a “recuperação territorial e luta pela terra”.
Ricardo Bacha também entregou aos membros da CPI um documento, encontrado em 2009 na propriedade de seu tio, Munir Bacha, que também foi invadida por indígenas. Trata-se de uma espécie de ata, onde consta o nome de dois membros do Cimi: Rogério Batalha Egon Heck.
Desse documento, constam o registro de armas, elencadas por numeração, o nome de lideranças indígenas destinadas a portar essas armas, e detalhes sobre o processo de organização para a invasão.
“Esse livro ata apresentao revezamento de pessoas, o número de balas usadas, de armas, os livros de presença nas reuniões, enfim, reflete o nível de organização que eles tinham”, relatou Bacha.
Também foi apresentada aos membros da CPI uma cartilha do Cimi afirmando, entre outros pontos, que os suicídios entre os indígenas só vão acabar “com a implementação de um sólido programa de atuação continuada, visando a recuperação dos territórios tradicionais e a reconstrução do modo de ser e de viver dos Guarani e Kaiová”.
Ainda de acordo com a cartilha, “não existe outra perspectiva senão essa, retomar áreas perdidas para desafogar as áreas superlotadas”.
Bacha e sua esposa fizeram um relato emocionado do dia em que a fazenda Buriti foi invadida e todo o processo que antecedeu essa invasão. De acordo com eles, a relação com os índios era amistosa desde a aquisição da terra, nos anos 20, até o fim dos anos 90, quando começaram a chegar notícias da articulação dos indígenas para invadir fazendas na região.
A família sofreu as primeiras invasões nos anos de 2000 e 2003. No entanto, a inocência demonstrada pelos indígenas, de acordo com Lucimar e Ricardo Bacha, demonstrava que eles não articularam sozinhos a invasão, tendo forças maiores por trás de todo o processo.
“Meu sentimento é de que havia algo orquestrado”, disse Lucimara.
A invasão mais violenta aconteceu em 2013, quando centenas de indígenas cercaram a sede da fazenda Buriti, jogaram bombas dentro da casa, aterrorizaram a família, empregados e seguranças. Acuados, Bacha, Lucimara, familiares e funcionários tiveram que ser retirados à força do local pela Polícia Federal, pois mesmo aterrorizados, não queriam deixar a propriedade.
“Antes, eles tinham um tipo de organização, agora têm outra, tenho certeza de que é um movimento de fora para dentro”, colocou a produtora rural.
Ao serem retirados do local pela Polícia Federal, Bacha e Lucimara afirmam ter visto várias pessoas não indígenas filmando a situação. “Passamos tudo isso em um país democrático”, protestou.
Após assistir ao vídeo que demonstra a presença de Flávio Machado e de um fotógrafo do Cimi na invasão da fazenda Buriti, o deputado Onevan de Matos (PSDB), membro da CPI, disse que não tem mais dúvidas sobre a participação do órgão nas invasões de propriedades particulares em Mato Grosso do Sul.
“Diante desse vídeo que eu desconhecia e tive oportunidade de ver, não tenho duvida participação do Cimi nas invasões. Isso é uma afronta total ao direito de propriedade, esse é o meu ponto de vista pessoal. Não tinha um ponto de vista formado antes, agora não tenho mais dúvida”, afirmou.
Relator da CPI, Paulo Corrêa (PR) disse que não há prova mais concreta da presença do Cimi nos processos de invasão. “Tem gente que acha super normal ser tirado de casa a base de bomba. Isso é tática de guerrilha, foram treinados”, disse.
Presidente da CPI do Cimi, a deputada Mara Caseiro (PTdoB) questionou se Lucimara Bacha tinha conhecimento da realização de duas reuniões da Grande Assembleia Terena, nos dias 8 e 11 de maio de 2013, antes da invasão, e se ela tem ciência de que essas reuniões são promovidas para definir o que os indígenas chamam de “estratégia de retomada”. A resposta para as duas perguntas foi positiva.
Por unanimidade, os membros da CPI decidiram que as provas apresentadas pelos dois depoentes serão incorporadas no processo de análise da CPI.
De acordo com Mara Caseiro, o próximo a depor, na próxima terça-feira (27), será o delegado Alcídio de Souza Araújo, da Polícia Federal.
Ainda segundo a presidente da CPI, outros nomes já foram aprovados para as próximas oitivas. São eles: Maucir Pauletti, Nereu Schneider, Olívio Mangolim, Cléber Buzzato, Alberto Vinícius Jorge, Dionedison Terena, Cacique Edson Candelário (aldeia Cachoeirinha), cacique Ramão (Nioaque), Professor Estevinho (Taunay), Emerson Kalif Siqueira, procurador da República, Dirce Verón (aldeia Taquara), Inocêncio Pereira e Cacilda Pereira (aldeia Kurussuamba), Luiz Henrique Eloy Amado, Otoniel Ricardo Guarani, Orlando Lopes, Daniel Lopes, Elizeu Lopes, Flávio Vicente Machado, Abelcio Fernandes (aldeia Kurussuamba), Cacique Paulo Durã (aldeia Potreiro), Adão Marciano Marques, Antônio Aparecido Jorge de Oliveira, Ramão Marques da Silva, cacique Benígino Paulino (aldeia Maninho) e Olício da Silva (comunidade indígena Pillad Rebuá).