20/04/2016 às 14h28min - Atualizada em 20/04/2016 às 14h28min

Marun é criticado em redes sociais ao tentar blindar Cunha no Conselho de Ética

- Conjuntura

O deputado federal Carlos Marun (PMDB-MS) é o novo alvo do público nas redes sociais após aparecer em rede nacional com manobras tentando blindar o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), da acusação de que o correligionário recebeu  propina de US$ 5 milhões fruto de um contrato de aluguel de navios sonda para a Petrobras.

A acusação foi feita em depoimento pelo empresário Júlio Camargo, delator da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. 

A pressão para o pagamento teria vindo de Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB no esquema de fraudes na Petrobras.

A bronca dos internautas é que a pedido de Marun, por meio de questão de ordem, o vice-presidente da Câmara, deputado Waldir Maranhão (PP-MA), decidiu na terça-feira (19) limitar a investigação no Conselho de Ética sobre Cunha.

Com isso, o peemedebista não poderá ser investigado sobre as acusações de que teria recebido propina, conforme relato de delatores da operação Lava Jato.

Na decisão, Waldir Maranhão determina que o foco da apuração no colegiado fique somente sobre a suspeita de que Cunha teria contas bancárias secretas no exterior e de que teria mentido sobre a existência delas em depoimento à CPI da Petrobras. Cunha sempre negou ser o titular dessas contas, e diz ser apenas o beneficiário de fundos geridos por trustes.

“Este é outra decepção, puxa saco do larápio Cunha”, postou Karlos Bernardo, em sua página no Facebook. “Vagabundo, o lugar desse safado é na cadeia junto com Delcídio”, acrescentou outro identificado por Adailton.

As contestações vieram à toa na terça-feira, quando Marun apareceu em entrevista ao Jornal Nacional em defensa de Cunha, e ganhou corpo nesta quarta-feira com mais intensidade.

“É bom que a safadeza desse FDP vendido, seja lembrada agora e na época das eleições. O estado do MS não merece ter um merda desse como seu representante na Câmara dos Deputados”, disparou Paulo Maurício Pereira dos Reis, do Paraná, também em seu perfil no face.

Aliás, Marun tem se destacado no Conselho de Ética ao jogar duro em favor da aprovação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, acusada de crime de responsabilidade, o que lhe rendeu dias importantes na mídia nacional. No entanto, é alvo agora de duras críticas dentro do próprio Congresso Nacional e nas redes sociais.

“Defender quem o procurador-geral da República chamou de 'delinquente' é, no mínimo, ser conivente com a corrupção”, opinou Adão Jorge Rodrigues Costa.  

Marun é um dos pré-candidatos do PMDB à Prefeitura de Campo Grande e, segundo analistas, torce pela posse do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) a fim de facilitar a caminhada de seu grupo político nas eleições municipais de outubro. 

RELATÓRIO

A decisão do vice-presidente da Câmara foi baseada no relatório preliminar do deputado Marcos Rogério (DEM-RO), que estabeleceu a continuidade do processo. Inicialmente, o relator determinava no seu parecer que Cunha deveria ser investigado por duas suspeitas: a de que omitiu a existência de contas no exterior e a de que teria recebido vantagem indevida.

Na hora da votação, no entanto, para que conseguisse votos suficientes para aprovar o parecer, Marcos Rogério concordou em retirar a acusação sobre a suspeita de recebimento de propina. No lugar, ele colocou uma observação de que a investigação poderia ser ampliada caso surgisse algum outro fato.

Na fase atual do processo, que é a de coleta de provas, Marcos Rogério solicitou ao Ministério Público Federal e ao STF (Supremo Tribunal Federal) o compartilhamento dos processos envolvendo Cunha. Em sua decisão, o vice-presidente da Câmara estabelece que essas informações somente poderão ser consideradas se estiverem relacionadas à imputação de que ele mentiu sobre as contas.

O pedido de compartilhamento foi feito há quase um mês pelo relator, mas ainda não foi atendido. Na avaliação de Maranhão, eventuais provas que forem coletadas sobre a acusação de recebimento de vantagens indevidas, se vierem a ser usadas pelo relator, serão consideradas aditamentos e poderão anular o processo.

Ele ressaltou ainda que, no caso de haver provas sobre o recebimento de propina, deverão ser reunidas em uma nova representação."Quanto a qualquer solicitação de informações ou documentos ou a realização de diligências promovidas pelo relator devem circunscreve-ser à imputação do inciso V do art. 4º à qual foi acometida ao representado, conforme decidido preliminarmente pelo Conselho de Ética", escreveu Maranhão em sua decisão.

RECURSO

Parlamentares contrários a Cunha criticaram a medida anunciada pelo vice-presidente da Câmara. Líder do PSOL, o deputado Ivan Valente (SP) acusou, mais uma vez, aliados de Cunha de manobras para adiar os trabalhos do colegiado. Ele também informou que pretende recorrer da decisão, juntamente com o presidente do Conselho e com o relator.

"Vamos conversar sobre isso [recurso]. Não vamos aceitar mais um trambique do vice-presidente. Vamos fazer, no começo da semana que vem, certamente. Acho até que isso pode acelerar o julgamento do Cunha no Supremo, quer dizer, mais manobras. Manobras atrás de manobras", disse. "Eu acho que as manobras de protelações do Cunha e seus aliados não têm limites", completou.

O deputado Zé Geraldo (PT-PA) também acusou Cunha de manobra e disse que pretende recorrer da decisão de Maranhão. "Vamos recorrer ao plenário com certeza", afirmou, acrescentando ainda que o presidente da Câmara passará a ser um dos alvos do PT. "O Cunha vai estar nas nossas prioridades nos próximos enfrentamentos", afirmou.

O deputado Julio Delgado (PSB-MG) afirmou que não será uma decisão de Waldir que irá pautar o trabalho do relator do Conselho de Ética. Delgado disse também que nada impede que, no julgamento de Cunha, os deputados interpretem da forma que quiserem as acusações contra o presidente da Câmara.

"Não vai ser ele, com uma decisão do Waldir que é o preposto dele, porque ele não pode dar uma decisão dessa porque ele é suspeito. [...] As coisas para o Eduardo vão apertar, e ele pode fazer qualquer atitude. Nós não vamos desistir. Ele pode fazer a manobra que ele quiser. A hora dele está chegando. Eu falei que ia chegar e está chegando", afirmou Delgado.


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