Até o gelado Marcos Uchoa se emocionou. Os "vasari" da Rafaela não derrubaram só as adversárias, derrubaram o fatídico destino social de quem nasce na Cidade de Deus e parece esquecido por Deus. Derrubou a imbecilidade do preconceito racial. Seu vasari não foi sexo fragil, foi garra feminina, alias esse início de olimpíadas do Rio me parece que veio para reafirmar a força da mulher. Derrubou a desesperança de um país onde a corrupção como monstro alimenta a desigualdade e a injustiça.
Eu chorei.
Nada me fascina mais do que destinos que pareciam traçados em trilhos de derrota e de repente dão certo. Rafa é o Brasil que deu certo. Seu vasari valeu mais do que ouro valeu esperança.
Tinha que vir de um esporte simples, relativamente barato e absurdamente disciplinado. Nossa primeira medalhista de ouro no judô tinha mesmo que ser negra, pobre, da favela e fruto de um projeto social, projeto nada capitalista, não bancado por uma mega empresa, mas por um atleta, por um campeao. As primeiras vezes que eu vi o Flávio Canto apresentando o balada do esporte, desconfiei dele, me parecia um cara sem muita graça, me lembro dele na dança dos famosos, péssimo, duro, mas ele veio me conquistando, o programa foi ficando bom. Hoje ele disse que trocaria qualquer medalha dele pela chance de ver a Rafa campeã, sensacional. Ele é o cara.
O Brasil que dá certo é essa junção de gente que já ganhou, que já chegou lá ajudando outros a chegar. Valeu Rafaela Silva, meu filhinho hoje me viu gritar, chorar, perguntou o que aconteceu papai? Eu disse vasari filho, vasari... Ele um dia vai saber que esse vasari valeu mais que ouro.
Autor: Luciano Gazola