A Polícia Civil, após pouco mais de três meses das investigações sobre fraudes envolvendo leituristas terceirizados, em Campo Grande, realizou mais de 100 indiciamentos. Nós últimos três meses, desde que o crime foi descoberto, triplicou o número de pessoas apontadas como envolvidas neste esquema, conforme afirmou ao G1 o delegado Jairo Carlos Mendes, titular da 5ª Delegacia de Polícia.
Recentemente, a polícia pediu um prazo maior para investigar a fraude. A suspeita é que os leituristas "mantinham contato e ficavam interessados pelo dinheiro fácil do esquema. "No entanto, nos autos, não temos elementos suficientes para dizer que estes funcionários terceirizados faziam parte de uma associação criminosa", afirmou o delegado João Reis Belo, responsável pelas investigações..
Nos próximos 30 dias, a investigação pretende localizar e prender o homem suspeito de fornecer o equipamento chupa-cabra, utilizado para cometer a fraude. "Após conseguir uma clientela fixa, a investigação acredita que eles agiam de maneira independente. Já temos cinco prisões, cerca de 50 indiciamentos e também uma média de duas pessoas a mais envolvidas nesta fraude", comentou o delegado.
Propina mensal
O primeiro funcionário preso por suspeita de fraude, de 34 anos, recebia de R$ 8 a R$ 10 mil por mês de propinas, pagas por dezenas de clientes na cidade, segundo a Polícia Civil. Ele cobrava taxa pelo esquema para reduzir o valor a ser pago pelos consumidores ao fazer a leitura dos relógios.
Pelo menos 40 clientes estariam envolvidos no crime descoberto após a concessionária de energia constatar irregularidades em faturas. O suspeito foi preso em flagrante com um celular, dois equipamentos usados para leitura e R$ 200. O dinheiro seria fruto de um acordo entre o suspeito e um comerciante, momentos antes da prisão.
"O cliente reclamou que estava cara a conta. Daí ele me abordou e falou que se tinha uma forma de diminuir. Em vez de colocar o que indicava o relógio, eu coloquei a metade. Fiz prática ilegal", afirmou o funcionário que não quis ser identificado, explicando que o acordo entre os dois já ocorria há oito meses. O advogado do comerciante de 34 anos não quis comentar o caso.
Inteligência da concessionária
Anterior a investigação policial, inspeções de rotina e informações de um sistema inteligente de combate a perdas, da companhia, apontaram irregularidades em 50 locais. São pessoas de diversas regiões do município.
Em nota, a Energisa diz que reforça que não compactua com este tipo de conduta, seja na sociedade, em seu quadro funcional ou no de empresas contratadas. A concessionária preza pela atuação dentro das normas vigentes, com foco na qualidade dos serviços prestados. Denúncias podem ser feitas pelo telefone 0800 722 7272.
Entenda o caso
A polícia instaurou inquérito no dia 12 de maio, para apurar a fraude envolvendo ao menos 50 consumidores e o funcionário. Na ocasião, houve um flagrante e o delegado Jairo ressaltou que "esta é uma modalidade diferente de crime, sendo que a polícia mantém contato com a Energisa para mensurar o prejuízo. Com a continuidade das buscas, mais de 100 pessoas foram indiciadas e quatro presas, algumas inclusive em flagrante.
Ainda conforme Mendes, o crime somente ocorria com o apoio de um funcionário, o chamado 'leiturista'. “No momento em que ele vai fazer a medição e imprime a conta, coloca um valor muito menor do que o consumido e por conta disso ganhava uma propina mensal”, finalizou o delegado na ocasião.