06/03/2017 às 08h12min - Atualizada em 06/03/2017 às 08h12min

Carnaval Vermelho: Sem-terra ocupam usina São Fernando em Dourados para reforma agrária

Trabalhadores ligados ao Movimento dos Sem-Terra

- Dourados Agora
MST invade usina S. Fernando - foto - Flavio Verão/DouradosAgora

Trabalhadores ligados ao Movimento dos Sem-Terra ocupam, desde cedo, a Usina São Fernando, em Dourados. O ato que conta com mais de 200 pessoas de Dourados, integra o "Carnaval Vermelho", disse em entrevista ao DouradosAgora o representante do Grupo, Douglas Eilas.

Ele informou que a ocupação na São Fernando é por tempo ilimitado e que, nas próximas horas, a ação será reforçada por um número maior de sem-terra da região.

Segundo Elias, o movimento reivindica parte da empresa, a Fazenda São Marcos, para fins de reforma agrária. "O Bumlai deve R$ 1,7 bilhões a bancos públicos e privados e isto inclui a empresa na Portaria 04 que determina que instituições devedoras sejam destinadas para a Reforma Agrária", disse Douglas Elias, ao DouradosAgora, que está no local acompanhando a movimentação. Mas, conforme informou a advogada dos Bumbai, aquela fazenda pertence a Guilherme e Maurício Bumlai, filhos do pecuarista.

A ocupação da usina integra ato nacional que ocorre simultaneamente em 11 estados. Os Sem-Terra também ocuparam o Incra, bloqueiam parte da Marginal Tietê (SP), órgãos públicos, entre outros.

Conforme noticiado pelo DouradosAgora, o pecuarista José Carlos Bumbai foi preso durante a 21ª fase da Operação Lava-Jato, batizada de Passe Livre, e tornou-se um importante personagem no quebra-cabeça do esquema bilionário de corrupção na Petrobras e em outras empresas. Próximo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bumlai tinha acesso livre ao gabinete da Presidência durante os oito anos de mandato do petista.

Assembleia de credores

A Justiça determinou para 9 de março a nova data para a realização da assembleia geral de credores da Usina São Fernando. A alteração ocorreu depois de o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJ/MS) revogar, na segunda quinzena de janeiro deste ano, a liminar que suspendia a realização da assembleia com credores.

No ano passado, duas assembleias chegaram a ser marcadas, mas foram canceladas por determinação judicial. A última havia sido programada para o dia 18 de novembro de 2016, com segunda chamada para o dia 1º de dezembro. No entanto, foi suspensa após o grupo de credores representados pelo BNP Paribas ingressar com agravo de instrumento.

Em nota, a EXM Partners, que assessora o grupo São Fernando no processo de reestruturação, informou que a reunião está agendada para as 9h do dia 9 de março, no Cerrado Brasil, em Dourados. Caso seja necessário, a segunda chamada está definida para o dia 16 de março de 2017, no mesmo horário e local.

"Neste plano de recuperação judicial, são requentes as empresas São Fernando Açúcar e Álcool Ltda; São Fernando Energia I Ltda; São Fernando Energia II Ltda; São Marcos Energia e Participações Ltda; São Pio Empreendimentos Participações Ltda e Vinicius Coutinho Consultoria e Perícia S/A Ltda", informou a consultoria.

A usina está em processo de recuperação judicial há três anos e atualmente acumula uma dívida de aproximadamente R$ 1,5 bilhão.

A São Fernando tenta evitar a falência. A empresa já reconheceu perante o titular da 5ª Vara Cível de Mato Grosso do Sul, o juiz Jonas Hass Silva Júnior, que não consegue cumprir o cronograma de pagamento de seus credores. A estratégia da defesa, feita pelo escritório Dias Carneiro Advogados, foi a de pedir a realização de uma nova assembléia para aprovar um outro plano.

Conhecido no agronegócio pela produção pecuária, Bumlai entrou no setor sucroalcooleiro em 2007 durante o "boom do etanol", período de euforia com o biocombustível e que teve como um entusiasta o próprio Lula, presidente do país à época e amigo do pecuarista. Naquele momento, não somente a família Bumlai se aventurou no setor, mas uma dezena de empresas, muitas estrangeiras, fizeram apostas de milhões de dólares em etanol e perderam muito dinheiro.

A crise do setor sucroalcooleiro, que abateu também a São Fernando, teria afetado o negócio de criação de gado da família, que chegou a ser dona de 150 mil cabeças no início da década passada. Propriedades da família, tais como fazendas e imóveis urbanos, foram dadas como garantias aos empréstimos contraídos pela usina. Em uma eventual decretação de falência, os bens serão transferidos à massa falida, para pagamento dos credores.


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