04/04/2017 às 16h06min - Atualizada em 04/04/2017 às 16h06min

Jornais impressos perdem força, demitem e fracassam nas bancas

O desempenho da venda dos jornais impresso chamou a atenção na banca

O desempenho da venda dos jornais impresso chamou a atenção na banca de Vanildo de Oliveira na última segunda-feira. Por volta das 10h da manhã, já havia vendido os dois exemplares que oferta diariamente. O número ínfimo impressiona. “A venda de jornal e revista caiu assustadoramente”, conta. Naquele dia, só não teve saída o exemplar do jornal que veio de Dourados. “Esse dificilmente vende, só quando passa um douradense aqui”, diz.

Também no Centro de Campo Grande, a banca de Dejimar Costa Melo acumulava os 15 jornais diários que recebeu para venda na segunda-feira. “Antes, não sobrava nada”, afirma. Agora, a tendência é empilhar os impressos e esperar o recolhe, realizado uma vez por semana. Com a pouca venda de jornais e revistas, ele conta que a banca vive mesmo é de recarga para celular e vale-transporte.

O ocaso do jornal impresso, que já pôs fim a publicações, forçou migrações para plataforma online e tem poucos sobreviventes – reflete o avanço da internet. Em Campo Grande, em média, a redução na tiragem é de 20%. Conforme o IVC (Instituto Verificador de Comunicação), o Correio do Estado, maior jornal do Estado, que tinha tiragem de 11.834 exemplares em 2015 reduziu para 9.466 no mês de fevereiro de 2017.

“De 20 anos para cá, com a chegada da internet, todos os jornais impressos do mundo, revistas e livros passaram a perder leitores. Eu considero que quem tem menos de 40 anos não lê impresso. E os que tem mais de 40 anos estão sumindo”, afirma o jornalista Maurício Pinto Hugo, 67 anos.

Ao todo, foram 39 anos de atuação no segmento impresso. Nesta semana, viu circular pela última vez o suplemento rural que editava no Correio do Estado.

Dos tempos sem internet, avalia que a atividade jornalística era, no mínimo, mais divertida. “O repórter vivia na rua, caçando noticia. A gente saía sem pauta. Era uma forma diferente de trabalhar, a reportagem era muito mais praticada. Tinha que ter muitas fontes, do mendigo até o governador. Conhecíamos todo mundo”, rememora.

Ele destaca que a versão impressa tem maior custo do que na internet. “Nem se compara ao custo do jornal impresso. A tinta é caríssima, o papel importado é caro. A manutenção das máquinas rotativas. A rotativa que era uma grande conquista está ameaçada de virar sucata”, afirma Maurício.

Nesta terça-feira (dia 4), um dos sócios do jornal postou no Facebook demissão de 15 profissionais. “Hoje o Correio do Estado termina o dia com 15 jornalistas a menos. Muito triste”, afirma Antonio João Hugo Rodrigues. A reportagem não conseguiu contato com a direção do jornal.

Sindicato – O Sindjor (Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul) informa que acompanha com preocupação as demissões, vai prestar apoio jurídico aos que perderam seus postos de trabalho e zelar para que seus direitos sejam assegurados.

“Consideramos que esse é um momento dos mais críticos do mercado local e defendemos, acima de tudo, união entre os profissionais para buscarmos, juntos, o melhor caminho rumo à preservação dos empregos. Um deles é o diálogo com as empresas, por meio dos acordos coletivos de trabalho”, afirma a presidente do sindicato, Marta Ferreira.

Reserva especial – A redução de jornais impressos também foi medida no Portal de Mídia, banco de dados da imprensa produzido pela grupo de pesquisa em Comunicação Social da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

Em 2012, eram 126 jornais impressos no Estado. O total caiu para 81 em 2016, perfazendo redução de 35%. “Um terço dos jornais desapareceram, fecharam”, afirma o professor Mario Luiz Fernandes, que coordena o projeto e é professor do mestrado em Comunicação da UFMS.

Contudo, avalia que os jornais impressos podem atender a outro perfil de leitor. “O impresso vai fazer jornalismo mais analítico, mais aprofundado, grandes reportagens. Não vai ser com tiragens monstruosas, mas um público mais específico”, afirma.

Nesta linha de raciocínio, a tendência é que as publicações sejam semanais. “A grande massa que prefere informação mais de entretenimento do que no sentido mais consistente da palavra vai ter a internet. O público do papel será mais seletivo, analítico”, salienta o professor.

Com chegada tardia ao Brasil, em 1808, e com característica de veículo de massa no começo do século 20, os jornais logo tiveram concorrência do rádio (1930) e televisão (1950). “ A gente não teve tempo de adquirir a cultura da leitura como na Europa, com jornal desde 1630,1650”.

Conforme o professor, o recorde de tiragem de jornal impresso no Brasil foi em 1994, quando a Folha de São Paulo atingiu 1,4 milhão de exemplares. Agora, a tiragem por dia chega a 300 mil edições. Contudo, a revista Veja, que é semanal, tem tiragem de quase um milhão de exemplares, indicativo de público para o impresso.


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