24/04/2017 às 14h55min - Atualizada em 24/04/2017 às 14h55min

Polícia Federal tem agentes no Paraguai para combater tráfico de armas pelo MS

Agentes brasileiros infiltrados tentam identificar fornecedores e compradores

- Correio do Estado

O comércio desregulado de armas de fogo no Paraguai faz da fronteira com Mato Grosso do Sul a principal porta de entrada de fuzis, pistolas e metralhadoras de grosso calibre no Brasil. Nos últimos quinze dias foram apreendidas mais de 700 munições e armamentos de guerra que tentavam atravessar o Estado rumo a grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro, onde incrementariam o arsenal de facções como Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV).  Para combater este tipo de crime, a Polícia Federal (PF) conta com três agentes instalados no país vizinho, a fim de detectar fornecedores e compradores.

Segundo o delegado Ricardo Cubas César, superintendente regional da PF no Estado, os adidos, como são chamados os policiais destacados em outros países, cumprem papel fundamental subsidiando o setor de inteligência da corporação com informações pontuais sobre a movimentação do crime organizado - também há policiais na Bolívia, que concentram suas ações no combate ao narcotráfico. Os dados, compartilhados com outras forças de segurança, auxiliam na identificação e localização de fornecedores, transportadores e receptadores. “Quase que a totalidade das armas e munições traficadas pelo Estado são destinadas às organizações que se aproveitam do baixo controle de venda no Paraguai”, disse.

Só neste ano, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) já tirou de circulação mais de três mil munições de uso restrito, dentre as quais quantidade relevante estava acompanhada de drogas, ocorrências estas encaminhadas à PF. Recentemente, a Polícia Rodoviária Federal (PRF), apreendeu 400 munições (100 munições calibre 38, 200 munições calibre 22 e 100 munições calibre 765) escondidas em compartimento oculto no porta-malas de um veículo Fiat Uno com placas de Cuiabá (MT). O condutor, de 34 anos, informou que teria adquirido o material em Pedro Juan Caballero, com objetivo de entregar no Mato Grosso. 

Não é descartada a hipótese de que o carregamento fosse destinado às quadrilhas especializadas no roubo do cangaço, que consiste em usar alto poder de fogo para suprimir forças policiais de cidades pequenas, geralmente com efetivo reduzido e incapazes de revida à altura, com o intuito de assaltar agências bancárias e lotéricas. “Com apoio da PF, temos obtido êxito neste tipo de apreensão que é mais efetiva do que tentar recuperar a arma quando ela já está sob posse de criminosos perigosos”, pontuou Kleryson Loureiro, assessor de comunicação da PRF.

ORIGEM DAS ARMAS
César explica que os vizinhos não produzem armamento e, por este motivo, importam deliberadamente dos Estados Unidos, República Tcheca, Turquia e outros países da Europa, materiais com alto poder de distribuição. Uma vez em solo paraguaio, os produtos são redistribuídos para outros países da América do Sul, principalmente o Brasil, onde reforçam o poder de fogo de facções. “Geralmente entram pela fronteira de forma ilegal armas de grosso calibre como .40, .9 milímetros e até mesmo 7.62, que são capazes de furar a lataria de um carro ou atravessar uma parede. São, claramente, armamentos usados em guerra”.

Aumenta ainda mais a dificuldade da polícia o fato de que os atravessadores, conhecidos como mulas, são pessoas contratadas apenas para desempenhar a função logística e, na maioria dos casos, nem mesmo chegam a ter contato direto com os fornecedores e os receptadores. Quando são presas, pouco contribuem com as investigações, seja por realmente terem poucas informações, seja porque omitem dados sigilosos para evitar represálias. É justamente esta lacuna que buscam preencher os adidos lotados em Cidade do Leste e Assunção. Ou seja, eles tentam descobrir o destino dos armamentos com base na identificação dos vendedores.

“Toda arma apreendida é encaminhada para perícia que busca, pelo número de identificação, localizar quem é o importador a partir do país vizinho, e para quem ele comercializou”, explicou César, lembrando que, com base nestas informações, é possível descobrir qual seria o destino do arsenal recolhido. Além dos agentes especiais, a PF faz parceria com a Polícia Nacional do Paraguai. No início deste ano, a Superintendência Regional firmou convênio entre as forças de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, para troca de informações e apoio logístico operacional, a fim de contar o avanço das facções que fomentam o tráfico de drogas e armas na fronteira.


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