26/03/2020 às 06h12min - Atualizada em 26/03/2020 às 06h12min

Há um mês, Itália resistiu a tomar medidas mais restritivas contra coronavírus; hoje soma 7,5 mil mortes

A Itália confirmou sua 1ª morte por Covid-19 em 21 de fevereiro

O Ministério de Saúde da Itália registrou ao menos 7.503 mortes por Covid-19 e mais de 57,5 mil casos do início da epidemia até esta quarta-feira (25). Há um mês, o país mediterrâneo relutava em ampliar medidas de isolamento que estavam concentradas em cidades da Lombardia, região ao norte do país mais afetada pelo surto de coronavírus.

Em 21 de fevereiro, a Itália confirmou sua 1ª morte por Covid-19. Naquele momento, o país registrava apenas 17 casos confirmados da doença. Logo no dia seguinte, o governo italiano anunciou um toque de recolher para 11 cidades da região mais afetada pela doença.

Mas foi apenas em 8 de março que a Itália decidiu isolar toda a região da Lombardia, responsável por parte importante da economia italiana, em uma medida que afetou cerca de 16 milhões de pessoas. No dia seguinte, o isolamento foi estendido para todos os 60 milhões de habitantes do país que naquele momento já registrava mais de 400 mortes pelo novo coronavírus.

ROMA - Uma rua vazia leva ao antigo Coliseu em Roma, na Itália. O país registra mais de 6 mil mortos pela Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus — Foto: Andrew Medichini/AP

ROMA - Uma rua vazia leva ao antigo Coliseu em Roma, na Itália. O país registra mais de 6 mil mortos pela Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus — Foto: Andrew Medichini/AP

ROMA - Uma rua vazia leva ao antigo Coliseu em Roma, na Itália. O país registra mais de 6 mil mortos pela Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus — Foto: Andrew Medichini/AP

Coronavírus na Itália

  • 30 de janeiro: primeiros casos de coronavírus no país
  • 21 de fevereiro: 1ª morte por Covid-19
  • 22 de fevereiro: governo declara toque de recolher na Lombardia
  • 8 de março: Lombardia é isolada para conter avanço da doença
  • 9 de março: isolamento completo em todo o país
  • 19 de março: número de mortos na Itália ultrapassa o da China
  • 21 de março: pico de mortes com 793 registros

'Exagero'

 

Com o rápido aumento no número dos casos, que em apenas uma semana de fevereiro foram de 76 para 650, diversos países passaram a restringir as viagens tanto com destino como as que tinham origem nas regiões mais afetadas da Itália.

 

O ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, disse em 27 de fevereiro, que houve uma "cobertura exagerada da mídia", o que teria sido motivo para a redução no número de voos.

 

"Na Itália, passamos de um risco de epidemia para uma 'infodemia' de desinformação, que neste momento está afetando nosso fluxo de turistas, nossos negócios e todo o nosso sistema econômico", disse Di Maio.

Neste mesmo dia, as autoridades de saúde italianas definiram um novo protocolo de testes para poder diagnosticar pacientes infectados pelo novo coronavírus, limitando o número de exames apenas às pessoas consideradas "do grupo de risco" que apresentassem sintomas.

 

Decretos e revogações

 

Pessoas com máscaras caminham pelo centro de Milão, na Itália, neste domingo (22) — Foto: Antonio Calanni/AP

Pessoas com máscaras caminham pelo centro de Milão, na Itália, neste domingo (22) — Foto: Antonio Calanni/AP

Pessoas com máscaras caminham pelo centro de Milão, na Itália, neste domingo (22) — Foto: Antonio Calanni/AP

Prevendo o avanço da epidemia no país e com a falta de ações centralizadas em Roma, prefeitos e governadores italianos tomaram atitudes individuais para tentar conter o surto de Covid-19. Decretos e regras mais restritivas eram impostas pelas regiões, mas anuladas pelo governo italiano.

Em 24 de fevereiro, o primeiro-ministro Giuseppe Conte suspendeu um decreto assinado pelo governador de Marche, região que até aquele momento não registrava casos de coronavírus, que previa o fechamento de escolas e a proibição de aglomerações.

O premiê italiano argumentou que este tipo de ação descentralizada “contribuía para gerar o caos”. O governador da Lombardia, Attilio Fontana, decretou o fechamento de bares e restaurantes, medida que foi anulada pelo governo central de Roma.

Naquele momento, o país ainda contava com cerca de 200 casos confirmados de coronavírus e ao menos 6 mortes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O número de confirmações e mortes aumentou exponencialmente e chegou a mais de 9 mil casos quando o país decidiu se isolar por completo.

Fechamento total

Imagem de um prédio em Roma, na Itália, em 13 de março de 2020 — Foto: Yara Nardi/Reuters

Imagem de um prédio em Roma, na Itália, em 13 de março de 2020 — Foto: Yara Nardi/Reuters

Imagem de um prédio em Roma, na Itália, em 13 de março de 2020 — Foto: Yara Nardi/Reuters

A Itália vive, desde o dia 9, um isolamento total que inclui a suspensão de aulas e de serviços não essenciais. Eventos foram cancelados, e até mesmo o transporte de mercadorias foi limitado.

 

Giuseppe Conte afirmou nesta quarta-feira que a emergência do novo coronavírus é "sem precedentes" em todo o mundo. Ele pediu também que os países sejam rigorosos no combate ao coronavírus.

 

"Ninguém pode aceitar, muito menos a Itália que está fazendo grandes sacrifícios para combater o vírus, que outros países não percebam essa necessidade de máxima atenção preventiva", disse o primeiro-ministro durante um pronunciamento na Câmara dos Deputados da Itália.

 

O premiê disse também que, se outros países não forem rigorosos com as medidas preventivas, a pandemia pode aumentar ainda mais o ritmo dos contágios.

 

Reflexos no Brasil

 

O secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, foi questionado pelo G1 sobre as mudanças de posicionamento da Itália e quais exemplos os recuos deixam para o enfrentamento da Covid-19 no Brasil.

"Diferentemente da Itália, nós estamos nos preparando para um cenário adverso", disse Wanderson. Ele afirmou que o governo prepara estratégias e insumos para enfrentar o avanço da epidemia, mas que os casos aumentam com velocidade diferente em cada estado e que é preciso cautela.

 

"Que (a quarentena) apresenta resultados, não temos dúvidas. Modulá-la para um país em desenvolvimento é fundamental, evitando exagero, que sejam proporcionais e restritas", disse Wanderson.

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