23/02/2021 às 08h47min - Atualizada em 23/02/2021 às 08h47min

Após 'balão' no Paraná, moradores de MS vão acionar a Justiça por cancelamento de concurso

No total 106 mil pessoas se inscreveram para prova da Polícia Civil no Paraná - Crédito: Divulgação PCPR
O cancelamento 'em cima da hora' do concurso para a Polícia Civil do Paraná somou milhares de reais em prejuízos para várias pessoas que se dirigiram ao Estado para realizar o exame, que aconteceria no domingo (21). O Núcleo de Concursos da Universidade Federal do Paraná era a banca organizadora da prova para preencher cargos públicos de Delegado de Polícia, Investigador de Polícia e Papiloscopista.

A banca suspendeu a realização do concurso durante a madrugada sob alegação de perigo de contágio pelo coronavírus.

Bacharel em Direito, Ana Paula Wandscheer, de 28 anos, investiu aproximadamente R$ 2,1 mil em custos de passagens aéreas, hospedagem e alimentação. Moradora em Dourados, ela contou que em um primeiro momento os candidatos acreditavam que o cancelamento se tratava de 'fake news'. "No hotel onde eu estava hospedada tinham muitos candidatos e no café da manhã começamos a receber mensagens avisando do cancelamento, pensamos se tratar de fake news, pois uma suspensão no dia da prova seria inadmissível, mas infelizmente ao acessar o portal do Núcleo da UFPR vimos que era tudo verdade". 

Ana ressaltou que os candidatos já enfrentaram um risco de contágio pela Covid-19 ao se deslocarem de um Estado para outro para fazer a prova, o que contradiz as alegações da banca para justificar o cancelamento. "No momento me senti devastada, pois foram muitas horas de estudo e dedicação, além de todas as horas de viagem e o risco de contaminação da Covid-19. O serviço público para muitas pessoas e para mim é um sonho de estabilidade. É muito triste ver um sonho ser frustrado assim". Ela pretende ajuizar um pedido de perdas e danos morais.

Grávida de três meses, Katiany Jacinto de Oliveira, de 39 anos, é policial civil na Deam (Delegacia de Atendimento a Mulher) em Dourados. Ela também se deslocou até o Paraná para realizar a prova, que inclusive aconteceria no dia do aniversário da filha. "Me sinto muito triste porque tive gastos, tive que me deslocar estando gestante, corri risco e não teve a prova. Deixei minha filha com a minha mãe, no aniversário dela. Que eles cancelassem antes né. Até saiu uma nota na página da polícia do Paraná que nem eles estavam sabendo. Nem acreditei que tinham suspendido. Muita desorganização dessa banca", contou a policial, que disse ter feito um investimento de aproximadamente R$ 1,5 mil para ir até o Paraná  e também avalia recorrer à Justiça.

Morador do município de Itaporã e bacharel em Direito, André Luís Reginatto da Silva, de 23 anos, conta que o prejuízo financeiro dele para ir fazer a prova só não foi maior porque se hospedou na casa de familiares. "Eu investi mais ou menos R$ 1 mil. Fui de carro com a família e ficamos hospedados na casa de parentes. Chegamos em Curitiba perto das 17h de sábado. Acordei com grande ansiedade para o concurso e quando peguei o celular aquela surpresa porque tinha sido suspenso pela própria banca". 

Para Silva, houve irresponsabilidade por parte da banca porque, segundo o jovem, praticamente todos os dias da semana que antecederam a prova eles deram certeza que todas as medidas de segurança contra a Covid-19 estavam sendo cumpridas.

"É muita falta de respeito com os candidatos. A desorganização da banca foi o motivo desse cancelamento. A vida de concurseiro é muito desgastante, estou estudando desde antes do edital sair. Deixei minha esposa e filha recém nascida em casa, para ir tentar o cargo dos sonhos e acontece isso. Agora é juntar forças para conseguir retomar os estudos com a intensidade de antes", lamentou Silva, que faria a prova para o cargo de delegado. Ele disse ainda que pretende tomar providências jurídicas. "Sim pretendo, não só pelo valor, mas pelo desgaste emocional e físico que sacrifiquei esse final de semana. Acredito que uma atitude dessas não pode ser ignorada, os culpados devem responder sim".

CANCELAMENTO

Um total de 106 mil candidatos disputavam 400 vagas no concurso. Conforme divulgado pelo Núcleo de Concursos da UFPR (Universidade Federal do Paraná) para justificar a suspensão do concurso, a última checagem com relação aos índices de contágio do coronavírus foi realizada na madrugada e "em observância ao seu protocolo de integridade" foi denotada "a ausência de requisitos indispensáveis de segurança para a aplicação das provas do concurso público em todos os locais previstos na capital e nas cidades da Região Metropolitana de Curitiba/PR, o que poderia colocar em risco a integridade das avaliações e o tratamento isonômico dos candidatos, bem como a saúde e a biossegurança de todos os envolvidos na realização das provas. 

Diante disso, foi comunicada "por cautela e com urgência" "a suspensão da aplicação de todas as provas previstas para o dia 21 de fevereiro de 2021 e o seu adiamento para outra data a ser oportunamente informada".

Já a Polícia Civil do Paraná divulgou nota no site institucional para informar que, "assim como os candidatos, também foi surpreendida, na madrugada deste domingo (21), acerca da decisão tomada pelo Núcleo de Concursos da Universidade Federal do Paraná (NC-UFPR) de suspender a aplicação das provas agendadas para esta data"."A PCPR informa, ainda, que imediatamente encaminhou ofício ao NC-UFPR requisitando os motivos ensejadores da medida adotada pela Banca contratada, pois, até então, era reportado por esta sobre a plena viabilidade de aplicação dessas provas. A retomada do andamento desse concurso é muito aguardada pela Instituição Policial Civil e pela sociedade paranaense, na medida em que visa a recomposição urgente do deficitário quadro de servidores para atender as demandas de área essencial, que é a segurança pública".

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