12/04/2021 às 07h57min - Atualizada em 12/04/2021 às 07h57min

Conheça a cerveja à base de soja inventada no MS que promete mais cremosidade

Cerca de 4 mil litros da Soy Bier já foram produzidos desde agosto de 2020. Criador da receita conta que teve ajuda de pai agrônomo na seleção de grãos

Uma das principais responsáveis pelo crescimento exponencial do agronegócio no país, a soja agora ganhou espaço na composição de uma das bebidas preferidas do brasileiro: a cerveja.

Sediada no Mato Grosso do Sul, Estado com a quinta maior produção da oleaginosa no Brasil, a fábrica Moagem lançou uma cerveja artesanal que tem soja na receita. A bebida foi criada para a inauguração da loja da cervejaria em Campo Grande, em agosto de 2020, mas ganhou o gosto dos clientes e já teve cerca de 4 mil litros produzidos.

“É uma cerveja muito cremosa em virtude da proteína da soja residual”, afirma Felipe Zuffo, dono da Moagem, que defende ser esse o segredo do sucesso da Soy Bier, disponível por enquanto apenas no Mato Grosso do Sul.

Para desenvolver a bebida, Felipe conta que teve a orientação de seu pai, Nilsso Zuffo, agrônomo especialista no melhoramento genético da oleaginosa. A princípio, a elaboração da cerveja com soja foi uma homenagem a Nilsso, que também é produtor do grão. “Afinal, a soja pagou minhas faculdades”, diz Felipe, que é formado em tecnologia de alimentos e engenharia da computação.

Embora a Soy Bier tenha sido lançada apenas no ano passado, o cervejeiro conta que o desenvolvimento da bebida começou há 12 anos, quando ele ainda produzia cerveja em casa. Como o sabor da oleaginosa não é muito atrativo, a Moagem investiu nas questões funcionais que um grão proteico como a soja poderia dar à bebida.

“Tivemos que estudar uma proporção e uma forma de utilizar esse insumo no processo de produção, de forma que o produto final fosse palatável e interessante”, recorda.

Visando equilibrar o gosto forte da oleaginosa, Felipe escolheu fazer uma cerveja do estilo American Lager - leve e refrescante, segundo ele. “O resultado final é uma bebida com o corpo mais avantajado e uma espuma extremamente cremosa. O que pode gerar um certo estranhamento é a turbidez do produto, que é característica da variedade”, afirma.

Questionado sobre o impacto de adicionar soja, cuja cotação vem flutuando em torno de R$ 160 por saca nos últimos meses, no preço do produto, o cervejeiro diz que não há diferenças significativas. “Por mais que a oleaginosa esteja extremamente valorizada, seu preço ainda equivale ao do malte europeu, que continua sendo fundamental na receita”, detalha.

Presidente da Aprosoja-MS, André Dobashi pondera que a atual capacidade de produção e demanda ainda são baixas, mas destaca a iniciativa de transformar commodity em um produto personalizado, artesanal e de qualidade.

“A elaboração de uma cerveja que tenha a soja como base é muito bem-vinda, levando em consideração não só as produtividades evolutivas da porteira para dentro, mas também a possibilidade de, mercadologicamente, contarmos com mais um derivado em expansão, o que pode significar muito para o setor”, observa.

Fora do tradicional

A Soy Bier não foi a primeira aposta da Moagem em produtos com ingredientes típicos de Mato Grosso do Sul. Entre as mais de 40 cervejas registradas pela fábrica, algumas levam a fruta guavira, tereré ou são envelhecidas em palo santo, madeira muito encontrada na divisa do Brasil com o Paraguai.

Na perspectiva de Felipe Zuffo, o público procura cervejas artesanais em busca de um produto que fuja ao tradicional. “Por isso, o toque regional faz a diferença. As pessoas identificam na bebida algo que lembra seu bairro, sua rotina, sua cultura, sua infância. E a gente tem esse feedback dos nossos clientes.”

Contudo, o cervejeiro admite que a Moagem, assim como outras fábricas de menor porte, não consegue competir em preço com a produção industrial em larga escala. “Não podemos ligar para o preço, e sim para ter, acima de tudo, uma qualidade absurda”, argumenta.

A dificuldade de produzir em grande quantidade também impede a cervejaria de expandir mercado para outros Estados, o que ficou ainda mais complicado com a pandemia, segundo Zuffo. “A gente tem o foco de atender o público da nossa região, mas gostaríamos de atender fora dela”, conta o empresário, que busca parcerias para expandir a fábrica.

De qualquer forma, a clientela de nicho vem garantindo bom retorno à Moagem, que produz até 9 mil litros de cerveja ao mês, quando somadas todas as variedades de bebida fabricadas.


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