Em seu segundo ano de vigência, o Novo Ensino Médio, que traz mudanças na grade curricular e oferta de disciplinas optativas em todas as escolas do país, possui pontos positivos, de acordo com especialistas, mas também tem sido alvo de críticas por grupos que chegam até a defender sua revogação.
CONTEXTO: Com o início do ano letivo e a obrigatoriedade de implementação do modelo a partir deste ano e, portanto, mais estudantes sob as novas regras, a reforma do ensino médio tem mobilizado discussões acaloradas nas redes sociais.
Falta de estrutura adequada nas escolas, despreparo dos professores e conteúdos inusitados em contraposição à diminuição da carga horária de disciplinas tradicionais são apontados como um risco de ampliar ainda mais a desigualdade no acesso ao ensino superior entre alunos oriundos do sistema público e os da rede privada.
O Ministério da Educação (MEC) diz que a questão "transcende a simples revogação e passa pelo debate sobre melhoria da qualidade". A pasta pretende fazer uma "ampla pesquisa com toda a comunidade escolar" para "corrigir distorções".
O Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), que representa as redes estaduais, afirma que "aprimoramentos e ajustes" podem e devem ser discutidos, mas que a revogação "não é o caminho para tornar essa etapa mais atrativa ao estudante".
Alguns estados, como São Paulo, já têm pensado em fazer mudanças. O governo paulista estuda reduzir as opções de formação específica para poder dar mais apoio às escolas.
Entidades estudantis estão entre os principais críticos à reforma do ensino médio. Nas redes sociais, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) está engajada em favor da revogação do modelo e tem cobrado uma reforma do sistema educacional.
Entre os argumentos apresentados pela Ubes estão:
A Ubes cobra a revogação imediata do Novo Ensino Médio e a "construção de uma comissão tripartite, que una sociedade civil, estudantes e governo" para elaborar uma nova lei para regulamentar o ensino médio.
Procurada pela reportagem, a União Nacional dos Estudantes (UNE) afirmou que acompanha a Ubes nas reivindicações.
Em outra frente, o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) montou um abaixo-assinado on-line para coletar apoio a favor da revogação da reforma e que já conta com mais de 96 mil signatários.
Estudantes do ensino médio em sala de aula — Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasil
Estudantes do ensino médio em sala de aula — Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasil
Favoráveis ao novo modelo, o MEC e os governos estaduais argumentam que o objetivo é tornar essa etapa do ensino mais atrativa para os estudantes. Assim como especialistas na área, que concordam com o formato, eles reconhecem, porém, a necessidade de se discutir e fazer ajustes a fim de aprimorar a etapa. Entre os pontos vistos como positivos estão:
O Todos Pela Educação é um dos que entendem que o novo formato aponta para a direção correta, com organização curricular por área do conhecimento e busca da interdisciplinaridade, mas defende a necessidade de ajustes
A entidade considera positiva "a ideia de uma arquitetura curricular diferente e da expansão da carga horária já estava presente", mas vê dois problemas:
Outro aspecto central para o Todos é que apenas a mudança no currículo não é suficiente.
Lousa com giz em sala de aula. — Foto: Marcos Santos/USP Imagens
O Movimento Pela Base ressalta que o modelo tem o objetivo de "garantir uma educação de qualidade, conectada aos desafios de nosso tempo e aos interesses de cada estudante - e, assim, ajudar a reverter os desastrosos números do velho Ensino Médio, como aqueles de evasão e de aprendizagem".
Alerta, no entanto, ser "imprescindível" fazer "um monitoramento cuidadoso e um diálogo permanente com gestores, professores, estudantes e famílias, que aponte o que está dando certo, assim como as demandas e carências do processo".
Ao mesmo tempo em que veem como positiva a oferta de conteúdos interdisciplinares, alunos que têm aulas no novo formato, de olho nos vestibulares, sentem falta de mais conteúdo nas disciplinas tradicionais.
Em entrevista ao SP2 (veja vídeo abaixo), Gabriel Teixeira Guedes, que estuda em uma escola estadual da capital paulista, conta que tem nove horas de aulas por dia e uma de suas disciplinas mistura conhecimentos de ciências humanas e exatas. Era parte do itinerário formativo "#quemdividemultiplica".
"Escolhi porque eu gosto bastante de exatas. Mas também fala de sociologia, filosofia que são importantes para o cidadão", explica.
Já a estudante Sofia Barbosa cursa o itinerário formativo "Corpo, saúde e linguagens", que mescla conhecimentos de linguagens e ciências da natureza. Ela vai tentar uma vaga no vestibular esse ano, e diz sentir falta de mais conteúdo.
"Ele [o itinerário formativo] tem umas matérias focadas nele junto, só que eu sinto falta de uma matemática pura, básica, básica, básica", afirma.
A colega dela, Amanda Pereira, de 16 anos, também vai concluir o ensino médio em 2023, mas diz que não chegou a se acostumar com o novo modelo.
"São varias matérias que a gente já tinha focando os temas numa coisa só. Mas ao mesmo tempo, as matérias que saíram um pouco da carga horária fazem um pouco de falta para vestibulares e afins", diz.
Secretaria Estadual da Educação estuda mudanças no novo ensino médio