Série de reportagens do site ''De Olho nos Rualistas'' mostra que a fazenda Annalu, palco de gravações da novela global Terra e Paixão é suspeita de crimes ambientais graves, entre eles despejo ilegal de agrotóxicos e desmatamento de área de preservação em Deodápolis.
Na ''novela das 9'', a fazenda Annalu se chama ''Nova Primavera'', e tem o ator Tony Ramos como protagonista. Ele é um inescrupuloso e impiedoso proprietário rural.
O detalhe é que, segundo o site, na vida real a propriedade tem 1.768 hectares, em nome do empresário Aurélio Rolim Rocha, o ''Lelinho''. Foi descoberto que a propriedade operou ao menos 37 tanques de piscicultura na região da margem direita do Rio Dourados, por três anos, sem licenciamento ambiental.
As terras onde são feitos o cultivo de tilápias estariam invadindo de uma área de preservação permanente e a atividade estaria provocando danos ambientais, inclusive à morfologia do corpo hídrico do corpo hídrico, apurou a De Olho nos Ruralistas.
Em março de 2022, segue a reportagem, o MPE-MS promoveu um Termo de Ajustamento de Conduta com o empresário Lelinho Rocha. Ficou acordado que ele teria dois meses para sanar as irregularidades.
Globo gravou novela em fazenda suspeita de danos ambientais (Foto: MPMS)
Drenos
Outra questão apontada no TAC em relação à fazenda seria a instalação de drenos na área, a fim de drenagem de terrenos alagados quando para captar água destinada à irrigação do plantio, pecuária e piscicultura. Laudo técnico diz que parte da estrutura invade área de preservação permanente.
Criação de gado em área de reserva é proibida (Foto: MPMS)
Desmatamento
Em junho de 2019 o MPMS executou vistoria técnica na fazenda após suspeita de desmatamento ocorrido em 2015 na Fazenda Annalu. Em razão disso foi aberto inquérito civil, em 2018, que depois resultou em termo de ajustamento de conduta em 2022, poucos meses antes do início das gravações de Terra e Paixão.
A primeira análise da propriedade, iniciada em 2016, conta a reportagem, identificou que havia área passível de averbação de reserva legal de 7,45% do total da fazenda. O mínimo exigido pela Lei Ambiental é de 20%. Em 2018, a família dona da fazenda declarou que o imóvel tinha 335,3 hectares classificada como Reserva Legal.
Foi observado em laudo técnico que, além do desmatamento, chegou a ter criação de gado dentro da reserva legal, algo proibido por lei. O MPMS então pediu que a suspensão imediata da atividade pecuária na fazenda.
O De Olho nos Ruralistas apurou que, documentos posteriores anexados ao TAC não detalham se as exigências foram cumpridas.
Armazenamento de agrotóxicos fere normas, diz MPE (Foto: MPE-MS)
Agrotóxicos
O De Olho nos Ruralistas apurou também que relatórios técnicos juntados ao TAC relatam que a pulverização de agrotóxicos desrespeitou a distância mínima em relação às áreas de preservação e habitações localizadas dentro do imóvel, além do descarte irregular dos produtos químicos.
A vistoria técnica foi feita em junho de 2019 e narrou a prática de pulverização terrestre seria feita em região ''contígua às áreas propostas para comporem a Reserva Legal da propriedade e distante cerca de 20 metros de áreas úmidas''.
Outro problema é o armazenamento das embalagens desses produtos tóxicos, feitos de maneira aparentemente precária e em local inadequado. Vistoria constatou embalagens depositadas sobre o solo, fora do depósito.
De Olho nos Ruralistas enviou questionamentos aos representantes do grupo Valor Commodities, ao Imasul e à Rede Globo. Não houve retorno até o fechamento da reportagem. O espaço segue aberto para manifestação dos citados.